Para a nossa sobrevivência enquanto espécie, necessitamos de aprender a respeitar e a honrar a Terra.

Nos últimos tempos é cada vez mais notória em mim a profunda ligação que sinto à natureza.

Outro dia conversando com uma linda pessoa a propósito dos projectos a que estamos ligadas, falávamos sobre quais seriam as melhores condições que poderíamos criar para que as pessoas pudessem sentir uma genuína ligação à natureza, à floresta e pudessem descobrir que a natureza que está fora, está também dentro de cada um de nós?

Como ajudar o outro a sentir que também é natureza e que a forma como ele lida cá fora com ela é igual à forma como lida consigo próprio e com os outros? Podemos criar programas e iniciativas que convidam as pessoas a terem contacto com a natureza para viverem experiências de conexão, e isto é um passo muito importante, sobretudo para quem vive nas cidades, mas como ajudar a sentir que intrinsecamente se é natureza?

No meio desta reflexão ocorreu-me que em dado momento, no caminho percorrido de carro ao encontro desta pessoa vi uma placa à beira da estrada que dizia: “Vende-se terras”. Pela primeira vez nesta minha vida senti algo que nunca havia sentido desta forma. Senti muito forte dentro de mim, que o planeta é um ser vivo que escravizamos. No tempo da escravatura comprávamos e vendíamos pessoas. Não os respeitávamos e tratávamo-los como objectos que explorávamos até à exaustão.

Retirávamos deles tudo o que tinham para dar e no fim eram descartáveis. Quando acabassem (morressem) comprávamos mais. Assim fazemos com o nosso planeta Terra. Assim fazemos com a natureza. Assim fazemos com as árvores. A Terra é um ser vivo que maltratamos, que exploramos até à exaustão. Um ser vivo que não sabemos respeitar. Este ser vivo, na dádiva e de forma tão generosa dá-nos tudo o que precisamos para viver. O ar que respiramos, os alimentos, as matérias primas que precisamos para nos vestir, abrigar e principalmente dá-nos a água que é vital para a vida.

Tudo isto ela nos dá gratuitamente, sem que nunca tenha imposto um preço, a não ser o de cuidar para que possamos continuar a ter, em abundância. Para a nossa sobrevivência enquanto espécie, necessitamos de aprender a respeitar e a honrar esta dádiva. Honrar a Terra. Podemos começar por aprender a honrar a dimensão do sagrado em nós para que possamos respeitar e honrar a nossa mãe Terra. Talvez assim, consigamos sentir a natureza dentro de nós e comecemos a ser capazes de verdadeiramente amar.

(Paula Alves | 14 dez 2018)